Um dia na Vila do Parque Santa Anita

Passei manhã e tarde de 16/dez na Vila do Parque Santa Anita, em Porto Alegre, desenvolvendo oficinas com crianças em situação de risco e vulnerabilidade social.

O convite partiu da Shirley, que trabalha por lá com contação de histórias e arteterapia, entre outras atividades desenvolvidas pelo SASE (Serviço de Apoio Sócio-Educativo, programa que atende as crianças no turno inverso ao escolar) e organizadas pela ASMOVISA - Associação dos Moradores do Parque Santa Anita.

Usei O Sapo Zefirelo, o primeiro livro que ilustrei, para explicar para as crianças (entre cinco e nove anos de idade) que o livro infantil se compõe de dois elementos - texto e imagens - para contar uma história. Entendido isso, lancei o desafio de cada criança construir seu "livro", criando um personagem e contando uma pequena história com imagens e/ou textos distribuídos nas páginas de uma folha A4 dobrada. Valia de tudo, só não podia copiar, e sim deixar a imaginação solta.

Alguns eram super despachados, montavam seus livros, ajudavam os colegas, criavam histórias lindas, davam beijos e pediam fotos. Vontade de levar pra casa aquelas fofuras!!! Outros, rebeldes, exigiam bastante disposição das monitoras, brigavam, se emburravam em um canto, eram até expulsos de aula... me fazendo pensar o quanto dessa rebeldia não era causada por outros problemas em casa, pela realidade difícil que eles vivem. Os tímidos e inseguros precisaram de atenção e persistência, mas me recompensavam com sutilezas, com pequenas quebras de barreiras: o livro-cópia deixado de lado, o esforço de olhinhos fechados para imaginar como é um cachorro, um pássaro, uma cobra... e o lápis finalmente no papel e o sorriso orgulhoso aberto no rosto.

Foi uma experiência e tanto! No final, toda a produção virou um "livro" maior, que ficou no acervo da instituição e que as crianças podem rever quando quiserem. Fizemos algumas fotos, que posto assim que receber.

Um ótimo 2010 a todos!! Que a chama das nossas velas sirva não só para iluminar nossa própria caminhada, mas que ajude também a acender as velas daqueles que estão em nosso caminho.